segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Todo ser que respira... (5)

Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.
Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.
Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.
Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.

Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia.

Salmo 150









Quem deve louvar a Deus?


De tudo o que foi visto até aqui, deduzimos que o autor tinha um público específico em mente quando escreveu o Salmo 150: os levitas. Os levitas eram os encarregados dos vários serviços de manutenção do Templo, bem como pelo cuidado dos procedimentos litúrgicos, e eram os encarregados da música, como cantores e instrumentistas. Esses, com frequência, se desviavam dos propósitos, e amiúde devam péssimo testemunho. A tal ponto chegou a péssima fama deles que quando Jesus se refere aos levitas, o faz de maneira muito pejorativa, como no caso da Parábola do Bom Samaritano (ver Lc 10): o levita foi um dos que passou de largo daquele que havia ca[ido nas mãos do salteadores.
Ao que parece, os tais levitas tinham a tendência de achar que somente eles é que sabiam e podiam louvar a Deus adequadamente. Talvez se achassem mais espirituais, ou mais dignos, ou mais capacitados que os demais fiéis.
O salmista põe termo a essa presunção, explicitando quem são aqueles que podem e devem louvar ao Senhor: "Todo ser que respira". E ponto final. Para louvar a Deus não dependemos dos levitas,  nem quem quer que seja: basta que estejamos vivos/as. Aliás, a nossa própria vida é que é o nosso verdadeiro louvor. O louvor não é o dizemos, nem o que cantamos, nem os instrumentos que executamos: o louvor é a vida que vivemos de amor a Deus e ao próximo.
Dito isso, devemos então reconsiderar e assumir que os verdadeiros destinatários do Salmo 150 somos todos nós, que recebemos de Deus o fôlego de vida: "Porque nele vivemos, nos movemos e existimos" (At 17.28).


Aleluia!


Extraído do livro "Todo ser que respira... a missão da música na igreja", de autoria de Luiz Carlos Ramos. Editeo/Igreja Metodista

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Todo ser que respira... (4)

Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.
Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.
Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.
Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.
Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia.

Salmo 150



Como Deus deve ser louvado?


Já sabemos a quem louvar, onde louvar e por que louvar. Mas, como devemos fazer isso? A resposta do salmista é muito criativa. Ele sugere que tomemos como paradigma a estrutura de uma orquestra.
Uma orquestra convencional, guardadas as devidas distâncias e diferenças entre as modernas e as dos tempos bíblicos, é constituída essencialmente por instrumentos de (1) sopro (madeiras e metais), (2) cordas e de (3) percussão.
Ora, todas essas classes de instrumentos são mencionadas pelo salmista:

  1. Sopro: trombetas (metais) e flautas (madeira);
  2. Cordas: harpas, saltério e instrumentos de cordas;
  3. Percussão: adufes (tipo de pandeiro) e címbalos (tipos de pratos, percutidos un contra o outro).
Nota-se que a ideia aqui apresentada não é, evidentemente, que cada instrumento se governe autonomamente e que todos se manifestem em um cacofonia (som feio ou desagradável) insana e competitiva, mas em perfeita harmonia, em mútua cooperação - como o apóstolo Paulo recomenda aos Romanos (15.6): "para que concordemente [num só coração] e a uma voz glorifiqueis a Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo."
Disso infere-se que a variedade e a multiplicidade de dons e talentos podem e devem estar a serviço do culto e da adoração. As diferenças somam, quando colocadas a serviço da harmonia conduzida pelo grande Mestre e Maestro do universo.
Chama a atenção também a referência sem paralelo, que o salmista faz às "danças", no versículo 4. O autor redige uma sequência de paralelismos deixando a dança como elemento central e único:


A - Trombetas (sopro)
B - Saltérios (cordas) - neste caso, tipo de instrumento de cordas dedilháveis, semelhante à cítara.
B - Harpa (cordas)
A - Flautas (sopro)
C - Adufes (percussão) - tipo de pandeiro, feito de madeira leve com membranas retesadas de ambos  os lados.
D - Danças
B - Instrumentos de cordas (cordas)
A - Flautas (sopro)
C - Címbalos sonoros (percussão) - instrumento de percussão constituídos de discos de metal, pendentes na posição horizontal, que se percutem um sobre o outros; pratos.
C - Címbalos retumbantes (percussão) - semelhante aos sonoros, mas maiores. Os sonoros se utilizam nos dedos, como castanholas, os retumbantes com as mãos.


Essa estruturação literária, com base em paralelismos, é frequente na cultura semita e recebe o nome de Quiasmo. A sutileza do sistema está justamente naquele elemento que fica desparceirado, sozinho. A rigor, é justamente esse elemento solitário que constitui no central ou mais relevante da estrutura narrativa.
Se este for o caso deste salmo, então, deve os rever o nosso jeito de interpretá-lo. Para a nossa cultura (ocidental), a maneira como a "dança" é mencionada não parecia indicar ou sugerir qualquer destaque. Mas, se levarmos em conta a estrutura semita, então todo o peso recai justamente sobre a "dança" (mahol, em hebraico).
Curioso é que, ao longo da história, a Igreja tenha sistematicamente combatido esse tipo de expressão artística, por associá-la com o que se passava nas festas pagãs. No entanto, é só procedermos a uma análise honesta que concluiremos, com facilidade, que o problema não está na dança em si, mas com o sentido e no propósito com os quais se dançam.
Dançar, segundo os dicionários, é movimentar o corpo com intenção artística, obedecendo a um determinado ritmo musical ou como forma de expressão subjetiva ou dramática. Portanto, a arte, que é o que nós temos de mais próximo de Deus na cultura humana, oferece múltiplas possibilidades para expressarmos objetivamente os nossos sentidos, sensações e intenções subjetivas.
Naturalmente, se a "intenção" é necessária para que a dança seja arte, não faz sentido uma movimentação aleatória e vazia de significado. A dança deve ser, portanto, inteligente e inteligível.
É, igualmente, expressão coletiva. Essa dança da qual fala o Salmo 150 reporta-se às evoluções coreográficas realizadas pelo povo em suas festas e solenidades, e que eram realizadas, portanto, coletivamente e de maneira sincronizada, de modo que os corpos humanos chegavam a formar "desenhos em movimento".
Mas o que há de mais significativo nesta menção à dança é o fato de que o salmista traz o corpo para o culto. Sim, aquilo que durante séculos foi negado, na maioria ds contextos religiosos cristãos, é de vital importância para a espiritualidade bíblica. No entanto, essa centralidade do corpo não deveria causar estranheza nem provocar rejeição, uma vez que a principal doutrina cristã é justamente a da encarnação do Verbo: Deus se fez corpo em Cristo. Desde então, a negação do corpo deveria ser encarada como heresia, como o faz o autor das epístolas de João: "Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus" (1 Jo 4.2). Os que pensam diferentemente são anticristos, contra Cristo; "e todo que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo" (1 Jo 4.3).
A dança está no centro hierárquico do "como cultuar" porque mesmo que não tenhamos uma orquestra, nem órgão, nem violão nem mesmo uma flauta... e mesmo que a própria voz nos falte, ainda assim temos os nossos corpos para adorar a Deus. É com o corpo todo que cumprimos o grande mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e [não nos esqueçamos do outro lado da moeda]: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lc 10.27).


Extraído do livro "Todo ser que respira... a missão da música na igreja", de autoria de Luiz Carlos Ramos. Editeo/Igreja Metodista

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Todo ser que respira... (3)

Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.
Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.
Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.
Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.
Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia.

Salmo 150





Por que Deus deve ser louvado?


A próxima pergunta, a que o salmista responde é: Por que louvar? Sua resposta aponta dois motivos: pelos "poderosos feitos"de Deus e por causa da sua "muita grandeza".
Louvamos, portanto, a Deus por aquilo que Ele faz e por aquilo que Ele é.

  • Adorar pelo que Deus faz: Os feitos de Deus são poderosos. Deus cria o universo, o ser humano, os animais, os vegetais e os minerais de toda espécie, e também preserva e nutre sua criação; Deus salva o/a pecador/a, em Cristo, por sua graça eterna; Deus acolhe os seres aflitos e ouve o clamor dos/as oprimidos/as; Deus perdoa, cura, restaura; Deus julga e aplica a justiça e o direito, fartando de bens os pobres e repreendendo a ambição dos ricos; Deus visita a sua Igreja e a comissiona para que faça parte da sua missão no processo de implantação do seu reinado... Todos esses e muitos outros são motivos para louvarmos a Deus.
  • Adorar pelo que Deus é: também devemos louvá-lo por aquilo que Ele é. Deus é onipotente, onisciente, onipresente; Deus é justo e santo, benigno e misericordioso; Deus é amoroso, é Pai materno, é castelo forte, refúgio e fortaleza, é abrigo e amparo... As palavras de John Wesley sintetizam bem essa atitude de louvor quando exclamam: "Ó Deus, meu Deus, tu és meu tudo...".
Quando nos apresentamos diante de Deus para adorá-lo, devemos trazer à memória esses motivos maravilhosos, para que nosso louvor seja consistente e condizente com aquele que haverá de recebe-lo.


Extraído do livro "Todo ser que respira... a missão da música na igreja", de autoria de Luiz Carlos Ramos. Editeo/Igreja Metodista

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Todo ser que respira... (2)

Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.
Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.
Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.
Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.
Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia.

Salmo 150



Onde Deus deve ser louvado?


O salmista parece ter diante de si interlocutores que, como a mulher samaritana fez com Jesus séculos mais tarde (ver Jo 4.20), questionam: "uns dizem que o lugar certo de se adorar é aqui, outros dizem que é acolá. Qual é, afinal, o lugar certo para louvar?"
A resposta do salmista é inequívoca: há dois lugares privilegiados para louvar a Deus: no "santuário"e no "firmamento".
Provavelmente havia alguns que diziam que o louvor só era válido se fosse no Templo. Outros, críticos do sistema, rejeitavam o Templo e tinham muitos motivos para isso, pois este, com frequência, se convertia em "casa de salteadores"e lugar de "vendilhões", sem falar na exploração do povo, promovida pelos profissionais da religião, por meio da cobrança de onerosos impostos. Havia, portanto, quem defendesse e quem rechaçasse o templo.
O salmista defende, por um lado, o Santuário. Sim, há um lugar construído especialmente com a finalidade de oferecer ao povo um espaço condizente para prestar sua homenagem ao seu Deus. Mas há um "porém": o Templo, obra de mãos humanas, deve estar a serviço ao culto, e não o contrário. O culto não depende do Templo, é o Templo que existe por causa do Culto. Por essa razão, o autor do salmo acrescenta: "louvai-o no firmamento, obra do seu poder". O vasto Universo é o grande Templo no qual Deus deve ser louvado. E, como se comprovará mais adiante, o próprio corpo humano será exaltado como lugar privilegiado da habitação divina, sim: "Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós [...]?"(1Co 6.19).
Deus é maior do que o Templo. Deus está no Templo, mas não está confinado a ele: as abas das suas vestes já são suficientes para preenchê-lo completamente. A glória de Deus está no templo, mas não está restrita a ele. A glória de Deus ultrapassa o templo e inunda o mundo "como as águas cobrem o mar"(ver Is 6.1-3).
Concluímos, então, que o lugar certo para adorarmos a Deus é qualquer lugar sob o céu, ou seja: "no firmamento". Não é o espaço que condiciona o culto, mas o culto que define o espaço. É bom que tenhamos edifícios próprios para adorarmos, mas nunca devemos nos esquecer que, independentemente do lugar, "os verdadeiros adoradores adoram o Pai em espírito e em verdade"(Jo 4.23).


Extraído do livro "Todo ser que respira... a missão da música na igreja", de autoria de Luiz Carlos Ramos. Editeo/Igreja Metodista

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Todo ser que respira... (1)

Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.
Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.
Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.
Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.
Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia.

Salmo 150


Quem deve ser louvado?

O tema do salmo é apresentado na primeira palavra. A expressão "aleluia" (halal, no hebraico) pode ser traduzida por "louvar", mas é muito mais rica e praticamente sem equivalente em português. Por isso, ao longo da história, optou-se pela transliteração adaptada do termo original. Trata-se, portanto, de um "hebraísmo", isto é, uma construção própria da língua hebraica. E isso se deu em praticamente todos os lugares do mundo. Onde quer que se vá, o termos "aleluia", com algumas poucas modificações, ficou preservado, Virou uma palavra mundial.
"Aleluia", portanto, é uma expressão carregada de sentidos, que não pode ser traduzida por uma única palavra. Ela exprime um sentimento, um modo de pensar, um estado de espírito, uma disposição de ânimo, um jeito, enfim, de ser  e de agir diante do Sagrado.
Secularmente, no entanto, "louvar" tem sentido mais limitado e significa "enaltecer (alguém ou a si próprio) com palavras; dizer bem de; dirigir louvores a; elogia (-se). gabar (-se)" e seu emprego não está necessariamente restrito ao Sagrado. Pode-se louvar, elogiar, uma pessoa ou uma divindade.
O Salmo 150, porém, deixa muito claro o sentido que o autor dá ao termo, e quem é aquele que deve ser louvado: "Louvai a Deus".
A Bíblia emprega vários verbetes para designar Deus. Neste salmo, em particular, a palavra empregada é YaHWeH, ou Javé. Trata-se do nome mais sagrado de Deus, com o qual Ele se auto-designou ao apresentar-se a Moisés, do meio da sarça ardente. Este é o nome que não deve ser tomado em vão, preceito que encabeça a lista dos Dez Mandamentos. Para pronunciar esse nome, os hebreus tinham de realizar todo um processo de purificação. Muitas vezes, quando liam as Escrituras Sagradas, simplesmente substituíam o nome de Deus por um silêncio e por um gesto de inclinação do corpo.
Assim, está plenamente respondida a pergunta: Quem deve ser louvado? Reposta: O Único, o Santo, o Sagrado, Deus Javé. Mas nunca de maneira banal, nunca deixando escapar da boca, descuidadamente, o Nome Sagrado. Assim, quando louvamos, devemos ser "econômicos" em nossas palavras, evitando, principalmente, banalizar o Nome de Deus.

Extraído do livro "Todo ser que respira... a missão da música na igreja", de autoria de Luiz Carlos Ramos. Editeo/Igreja Metodista